Para você que faz parte dos 4% (ou 3%)
Eu sei. Você tentou. Fez de tudo. O pior é que o seu desgosto não é de agora. Vem desde 2002. Em 2002, você investiu bastante tempo em diversos sites e blogs, sempre publicando comentários desancando Lula e o PT. Repassou e-mails para todos os seus contatos tentando mostrar como o Brasil iria afundar, mas nada. O país estava no buraco, mas Sapo Barbudo não ia dar para aguentar. Os empresários sairiam do Brasil e você teria gente do MST morando na sua casa. Não, isso não. Além disso, o seu candidato era economista, preparado, como iria perder para um torneiro mecânico ? Abertas as urnas, Lula foi eleito. Esse aí não termina o mandato – você pensou.
Passam 2003, 2004 e nada. Em 2005, estoura o escândalo do mensalão. Para você pouco importava se fazia sentido que deputados da base aliada e do próprio PT estavam sendo acusados de receber dinheiro para votar a favor de projetos do governo. Você até perdeu a conta de quantas vezes escreveu Impeachment, algumas até em maiúsculas. Cansou de enviar e-mails para as seções de leitores da Folha, do Estadão e da Veja grafando Lula com três eles.
Entra em 2006 e o homem está cotado para ganhar no primeiro turno. Que absurdo. Tudo bem que já tinham sido criados 4 milhões de empregos com carteira assinada, que a pobreza tinha diminuído, que as dívidas com o FMI e o Clube de Paris estavam pagas e que a inflação estava sob controle. Tudo isso era graças ao FHC. Veio o escândalo dos aloprados e com a colaboração do Jornal Nacional, iria ter segundo turno. Logo na primeira semana ia ter debate e o desafiante e preferido dos empresários iria massacrar o presidente. Dito e feito. Terminou o debate e você pensou na hora: Nocaute. Começaram a sair as pesquisas e novamente você viu a vaca ir para o brejo. Lula eleito para mais quatro anos.
No período 2007-2009, você nem sofreu tanto. Afinal de contas, você sabia que em 2010 não teria para ninguém. O seu candidato já estava eleito. Lula não poderia concorrer de novo e o PT não tinha quadros. Tudo bem que o seu candidato estava em todas. Para Presidente era ele. Para Prefeito de São Paulo, ele. Para Governador de SP, ele. Quem não tinha quadros era o PT.
As notícias foram chegando, mas você não se impressionava. Se o crescimento do PIB era recorde, a criação de empregos era recorde e milhões de pessoas entraram na classe média, tudo isso era graças ao FHC e à China. A Copa do Mundo, as Olimpíadas, o Obama chamá-lo de “o cara”, as citações em revistas e sites internacionais levam você a concluir: sujeito de sorte. É claro que você se irritava com toda essa popularidade, mas exibia tranquilidade, afinal de contas, você tinha lido na Veja que o homem não faria o seu sucessor.
Começa 2010 e conforme suas previsões, o seu candidato lidera as pesquisas. O país já está no rumo, mas você pensa: “Agora, o país vai entrar nos eixos”. A Veja lhe informa que inclusive os astros estão a favor.
Já durante a Copa do Mundo, sinal amarelo. A ex-guerrilheira e tecnocrata sem experiência eleitoral estava subindo nas pesquisas. Será possível? Quando veio o empate técnico, você decidiu voltar à ativa. Usou a velha tática de repassar e-mails para os seus contatos, só que desta vez com apresentações mostrando o passado terrorista da candidata do PT, inclusive com apelos da família de uma suposta vítima, ficha falsa, enfim, destilando ódio como só você sabe fazer. Até voltou a marcar presença nas seções de leitores dos jornais. Caralho, em oito anos, você não aprendeu porra nenhuma. É sempre aquele mesmo papo de Cuba, Venezuela, Farc, MST e a liberdade de imprensa. Dois institutos de pesquisa começaram a apontar a mulher na frente. Será que até os institutos de pesquisa foram aparelhados pelo governo ? – você se pergunta. Ainda bem que no DataFolha, estava tudo no seu devido lugar.
Começou a campanha e a mulher começa a disparar em todos os institutos. Você espera o DataFolha e – maldição – a mulher está na frente mesmo. Pior, a cada nova pesquisa a distância aumentava. Foi aumentando, aumentando e começaram os rumores de fechar a conta no primeiro turno. De novo, o “mais preparado” iria perder. Precisamos de uma bala de prata – você pensa. Vale ex-marido, amante, dinheiro na calcinha, sequestrador com camiseta do PT, enfim, qualquer coisa. Prestes a jogar a toalha, requentam uma história de quebra de sigilo de 2009. Ainda bem que existe imprensa atuante, investigativa, responsável e imparcial nesse país. Não tinha nada a ver com a campanha, mas dane-se, a mulher é culpada. Quase duas semanas em cima do assunto e o efeito nas pesquisas é nulo. Ainda precisamos de uma bala de prata – você pensa. A Veja tenta uma. Propina para o filho da ministra da Casa Civil. A corrupção é tão enraizada no governo que eles estão registrando a propina até em contrato. Provas do envolvimento da mãe não existem muito menos da candidata, mas quem se preocupa com provas ? A Folha tenta outra bala. Arranjou uma testemunha qualificada. E daí que o sujeito é ex-presidiário com condenação por receptação e porte de moeda falsa tentando obter um empréstimo de bilhões do BNDES? Se estava falando contra o governo e o PT deveria ser verdade. Ao menos essa serviu para derrubar a ministra.
Enfim, essas balas não surtiram tanto efeito quanto a campanha na internet e nas igrejas sobre o aborto e a eleição foi para o segundo turno. Você ficou animado, mas nem tanto, afinal como a mulher teve 46,91%, ainda assim parecia difícil. No entanto, você voltou à carga mesmo após aquela pesquisa CNT/Sensus dando empate técnico. Aí a campanha virou só isso: igreja, fé e aborto. Economia, Educação, Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Programas Sociais ficaram fora. Só que o assunto cansou, a campanha foi voltando ao normal. O tempo de televisão foi dividido entre propostas e ataques, Erenice de um lado, Paulo Preto de outro, e o pré-sal entrou na pauta graças ao Zylbersztajn. Até que foi finalmente disparada a verdadeira bala de prata: a bolinha de papel. Foi um episódio tão triste e deprimente, comentado aqui e alhures, que depois disso o seu candidato não se recuperou mais. Com o perdão do trocadilho, foi serra abaixo. Aí foi só acompanhar as pesquisas, e verificar na apuração que não houve surpresa.
Hoje você acordou de mau humor e eu compreendo. Aliás, ontem mesmo, assim que soube do resultado, saiu disparando e-mails para manifestar sua indignação. Que democracia é essa? Na sua família, nas suas rodas de amigos, no seu trabalho, no jornal e na revista que você assina, todos concordam com você. O que será que está errado?
Agora que já a contei a sua história, deixe-me dizer uma coisa para você que faz parte dos 4% (ou 3%). Como assim, 4% (ou 3%) ? O Serra teve 44%. Eu sei que teve. O homem está na vida pública há anos. Foi ministro, prefeito, governador, preparou-se a vida toda para ser presidente, enfim aquela coisa toda e é natural que tenha votos. Só que esse post não é para os outros 40% (ou 41%) , é para você mesmo. Você, sua família, suas rodas de amigos, seus colegas de trabalho, os leitores do jornal e da revista que você assina, enfim esse pessoal raivoso só são 4% (ou 3%) e com isso, não dá para ganhar eleição nem de síndico.
Você que tem cara de pau de achar esse governo ruim ou péssimo e que passou esses anos todos esbravejando em sites, jornais e revistas conforme contei acima. Que perdeu seu tempo e me fez perder o meu ao repassar e-mails imbecis. Eu quero que você vá tomar no cu. Você e quem for da sua família, suas rodas de amigos, seus colegas de trabalho, os leitores do jornal e da revista que você assina. Filho da puta! Vai chorar na cama que é lugar quente. É DILMA PRESIDENTE.